sábado, 12 de março de 2016

ARTIGO: A MÁSCARA DA GRANDE MÍDIA

A MÁSCARA DA GRANDE MÍDIA

Ninguém desconhece o fato de que os meios de comunicação são empresas. São geridos como negócio e, como tal, eles sobrevivem no mercado de trabalho e nas bolsas de valores. Muitos donos, no Brasil, a despeito do artigo 54 da CF, são políticos, ou laranja de políticos, ou apadrinhado de políticos. Outros tantos, os velhos e conhecidos coronéis de outrora, numa roupagem moderna de “empresário da informação”, mas com a mesma sanha de dinheiro e poder!
Um incauto da área poderia, então, perguntar-se se a mídia tem lado. Com a resposta, Paul Starr (Professor de sociologia da Universidade de Princeton e ganhador do Prêmio Pulitzer, em sua obra ‘The Creation of the Media’): “Os meios de comunicação mantêm uma relação tão direta com o exercício do poder que se torna impossível entender seu desenvolvimento sem que se leve em muita consideração a Política, não simplesmente com relação ao uso que se faz da mídia, mas também no que se refere às escolhas constitutivas que se realizam sobre os meios de comunicação".
De acordo com isso, fica-se um pouco tautológico averiguar ao espetáculo midiático que se assiste nos dias hodiernos: varre-se para debaixo do tapete o que lhe convém; escancara-se massiva e enfaticamente o que não!
Semelhante a uma matéria recente de uma rede de Tevê retransmissora regional, que mostrava a precariedade de uma grande estação de ônibus da capital. Filmava o asfalto esburacado, as pingueiras, as escadas deterioradas, o teto desabando etc. E eu cá com meus botões: “Será que se redimiu? Ficou imparcial?” Qual não foi a minha surpresa ao assistir a sequência da reportagem, com o prefeito-herói entrando na referida estação, com capacete de peão de obra e tudo, dizendo que ia fazer e acontecer por ali... Um detalhe não nos escapa: o maravilhoso alcaide é da família dona da tevê!
Assim, por que somente os petralhas aloprados são os únicos que vão presos nas intermináveis fases da Lava Jato? Por que somente os governistas vão parar atrás do xilindró? Por que a mídia hegemônica só espetaculariza contra o governo, contra o PT, contra os partidos da base aliada, sendo que existem opositores comprovadamente envolvidos, de outrora e da atualidade? A resposta é com Noam Chowski: “O propósito da mídia não é informar o que acontece, mas sim de moldar a opinião pública de acordo com a vontade do poder corporativo dominante”.
Daí, para a mídia-empresa, pensar no individual é acerto, pensar no coletivo, é erro! Para a mídia-empresa, mercado aberto e estado mínimo é certeza de lucro e crescimento! Para a mídia-empresa, imposto quem tem que pagar é classe trabalhadora e não os ricos! Para a mídia-empresa, quanto mais liberal ou neoliberal, melhor! Enfim, para a mídia-empresa, seus iguais são os velhos senhores da Casa Grande!
Por isso e muito mais, as grandes corporações midiáticas no Brasil e no mundo sempre se aliaram a governos direitistas – eternos donos do comando! –, governos que defendem as mesmas posturas morais que elas, cuja ideologia capital-financeira está tão vigente, tão intrínseca nos dias coetâneos, que tudo que se mostre contrário a isso é emburrecedor, é odiado. Estamos vivendo uma nova fase do comunismo que come criancinhas: é o bolivarianismo de merda dos países fracassados sulamericanos!
Lugar de corrupto é na cadeia! Seja ele petralha ou coxinha! Seja ele neoliberal ou bolivariano! Seja ele culto ou analfabeto! Averigue-se todos os envolvidos, intime-se todos os culpados, prenda-se todos os comprovados com o ilícito, de ontem e de hoje! Imparcialidade é o que merecemos e o que desejamos nesse mar de asneiras e de lado podre a que estamos vendo nessa mídia-lixo, vendida e ideologicamente partidarista!
Que nós possamos ter o bom senso que boa parte dos meios de informação brasileiros relegou a segundo plano; que consigamos enxergar o mal pela raiz e cobrar mudanças como cidadãos pagadores de impostos, honestos e torcedores de um país mais equânime; que vençamos essa crise de valores; que façamos um panelaço real contra essa hegemonia videofinanceira alienante e obsoleta!

(Gustavo Atallah Haun – Professor, formado em Letras (UESC), editor de oblogderedacao.blogspot.com.br. Escreve para jornais de Itabuna e Ilhéus, na Bahia. Publicado no Diário de Ilhéus, de 01 de março de 2016; e no Diário Bahia, de 08 de março de 2016)

quarta-feira, 2 de março de 2016

SAIBA FAZER O DESENVOLVIMENTO DO TEXTO

Desenvolvimento insuficiente prejudica redação

Thaís Nicoleti Camargo - Especial para a Folha de S. Paulo
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Atualizado em 10/08 às 11h55.
Folha de S.Paulo
O estudante faz uma leitura superficial dos fatos. Talvez seja esse o principal problema do texto. No parágrafo introdutório, no qual caberia a tese a ser defendida, está apenas a constatação de que a população brasileira está muito confusa diante das atitudes eticamente condenáveis perpetradas pelos governantes.

O desenvolvimento dessa ideia revela certo simplismo. É verdade que, mais uma vez, o dinheiro do povo está sendo desviado de seus objetivos e que os problemas crônicos do país- saúde, educação, desemprego e violência- continuam negligenciados. Ocorre, entretanto, que talvez não seja esse o foco da questão.

Estamos diante de uma situação complexa. O grupo que ora se encontra no poder simbolizava a esperança de renovação e, sobretudo, de compromisso com os anseios do povo. A frustração imensa que acomete as pessoas vem do sentimento de traição da confiança. Além disso, não se trata agora simplesmente de indivíduos que se aproveitam do poder para assaltar o erário e encher os próprios bolsos. Estamos diante da revelação de práticas absolutamente desrespeitosas à ética, como a compra de votos, que vem sendo chamada de "mensalão".
Se, por um lado, o conhecimento dos fatos nos faz desacreditar ainda mais da classe política, por outro- e isso talvez nos sirva de alento-, é ele que nos pode conduzir à construção de novos caminhos. Essa é a discussão contida na proposta de redação.
É importante que o redator assuma uma posição, seja qual for, e a defenda. O debate de ideias, bem como a proposição de hipóteses e ponderações, enriquece o texto dissertativo. A mera constatação dos fatos é insuficiente.
Ao dissertar, é preciso emitir opiniões e validá-las por meio de argumentos. É a capacidade de organizar um raciocínio que é valorizada na redação.
Convém deixar claro que uma opinião é um pensamento construído. Só temos opinião sobre aquilo que é objeto de nossa reflexão. É preciso que nós nos convençamos das ideias que pretendemos expor aos outros, O texto aqui comentado não se desenvolve porque o autor não se propõe posicionamentos nem reflexão. É preciso buscar os pontos problemáticos do tema, aqueles capazes de suscitar a polêmica. Ao problematizar o tema, as ideias surgem. Depois, o trabalho é selecioná-las e hierarquizá-las.
A linguagem, por sua vez, deve abandonar o tom informal e, com o máximo de precisão e correção gramatical, contribuir para a articulação das ideias.
Thaís Nicoleti Camargo - Especial para a Folha de S. Paulo